
LULA - BOULOS: CONTRADIÇÃO AMBULANTE!
Tempos difíceis e paradoxais estes que o Brasil vive. Após quase 20 dias do segundo turno do pleito presidencial, centenas de brasileiros, vestidos com as cores da nossa bandeira, proclamam, pacificamente, entoando o Hino Nacional, em avenidas e praças pelo Brasil afora, nas imediações dos Comandos Militares, a sua insatisfação e revolta com as eleições. A verdade é que os brasileiros de todas as cores e classes sociais sentimo-nos tungados pelo Supremo e pelo TSE. “As eleições foram fraudadas!” (“We was stolen!”: “Fomos roubados!”). Esse é o reclamo geral.
“Perdeu mané: não amola!” Essa foi a malcriada resposta dada, nas ruas de Nova Iorque, por um dos ilustres togados a um cidadão brasileiro que, educadamente, solicitava aos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, o que todo mundo queria saber: informações que permitissem entender o que estava acontecendo nas supremas instâncias, dispostas a perseguir, multar e prender quem ousasse discordar dos atos arbitrários que ignoram a liberdade de expressão, consignada na Constituição.
Este período de confusão, má educação e arbitrariedade, foi batizado pelo jornalista Alexandre Garcia como uma “Transição para baixo” (Gazeta do Povo, Curitiba, 16-11-2022). E bota baixaria nisso! A respeito da retórica oficial, escrevia o citado jornalista: “Lula quando fala assusta, como disse a decepcionada economista Elena Landau, que o apoiou no segundo turno. ‘Lula não aprendeu com os erros do passado’. Na verdade, parece que voltou ainda mais disposto a recrudescer nos erros. Henrique Meirelles e Armínio Fraga já recolheram os flapes e não estão dispostos a pousar no novo governo. ‘Boa sorte!’, desejou ironicamente Meirelles, que vê um período diferente daquele primeiro ano de Lula, em 2003, em que a economia mundial derramava suas bênçãos sobre o Brasil. Hoje, a economia chinesa, desacelerada, faz uma grande diferença. Depois do desprezo pelo ‘tal mercado’, Lula foi condenado com duras palavras por editorial da Folha de S. Paulo, que tanto o apoiou".
A grande imprensa oportunista já deve estar arrependida da sua canina obediência ao STE ao longo da campanha, que ordenava louvar o candidato das esquerdas ocultando qualquer coisa que o desagradasse, ou que pudesse manchar a sua reputação, como se referir a ele nos termos de “ex-condenado” ou “ex-presidiário”. O candidato ex-presidiário tinha virado um semideus impossível de ser injuriado com epítetos que recordassem o seu prontuário. A respeito do clima de incerteza que antecipa as tormentas que virão após a provável posse, escreveu Alexandre Garcia: “Investidores, empregadores, produtores ainda não sabem o que virá. Fernando Haddad em lugar de Paulo Guedes pode ser apenas um bode na sala, para dar lugar a alguém que tenha assistido a mais de dois meses de aula de Economia. Boulos para Habitação é tão irônico quanto Stédile para a Reforma Agrária. Os nomes que circulam podem ser de fogo amigo de quem está de olho no ministério, ou fake news para assustar, mas bem que Lula poderia mostrar algum nome que acalmasse a incerteza que faz os investidores pisarem fundo o pé no freio”.
Ora, qual foi a resposta de Lula em face dessas indagações da mídia e da opinião pública? “Enquanto isso - frisa o jornalista - ele pega um jatinho com matrícula americana de um empresário de plano de saúde que, como ele, já andou preso, e voa para o Egito dos faraós. O jatinho de US$ 54 milhões vai juntar-se às centenas de outros aviões nada amigos do meio ambiente para marcar presença na Conferência do Clima, levando Marina Silva”.
Adicionemos um dado técnico-ecológico: para uma reunião internacional destinada a combater as emissões de carbono e o efeito estufa, o tal jato particular do empresário amigo despejará no meio ambiente, na ida e volta do Egito, nada menos do que 130 toneladas de gás carbónico. Mais uma contradição do amigo do meio-ambiente, que se diz “uma metamorfose ambulante”. No caso ambientalista, Lula seria, aqui, “uma contaminação ambulante”!
Dias atrás os Comandantes Militares (do Exército, da Marinha e da Aeronáutica) divulgaram uma nota conjunta, dirigida “Às instituições e ao Povo brasileiro”, na qual destacavam que as manifestações dos descontentes nada têm de ilegal e que devem ser escutadas, respeitando o direito de protestar, marchar e fazer greve. A respeito, o citado jornalista escreveu: “(Os Ministros do STE) desrespeitaram direitos e garantias individuais que são cláusulas pétreas da Constituição e do Direito Natural. Crise institucional ter origem num tribunal constitucional é a última causa que se pode imaginar, mas é consequência do comportamento de um país ciclotímico e masoquista. Quando a nação se encaminha para a grandeza, pensa que não merece e provoca uma guinada que [a leva a] cair de novo. Desta vez, a guinada veio de uma elite da política, da Justiça e da mídia, usando eleitores desinformados. Planejada ou não, o que se sente nesses dias é uma transição para baixo”.