O Deputado Federal por Goiás, Gustavo Gayer, comentando a recente eleição presidencial na Venezuela, apresentou um quadro revelador da existência, na América Latina, nas eleições comandadas pela esquerda, de uma tendência a manipular os dados eleitorais de forma a que o candidato vencedor apareça ganhando a eleição por uma pequena margem. Isso conferiria maior credibilidade aos pleitos em questão. A esquerda latino-americana mostrou, assim, ao longo das últimas três décadas, um avanço na engenharia da manipulação do voto, embora a sensibilidade com o respeito à vontade do eleitorado fosse "relativa", com a disposição a-priori de manipular os votos para que os candidatos do peito, os esquerdistas, ganhassem as eleições, no caso de que "as direitas" progredissem muito no tocante à conquista de votos.
Nas tradicionais ditaduras o correto era ganhar as eleições por uma margem muito alta, que ultrapassava os 90% de votos em relação ao segundo colocado. O caso extremo hoje seria apresentado pelas “eleições” na Coreia do Norte, em que o ganhador aparece com quase 100 % dos votos. Na Rússia de Vladimir Putin e na China de XI-Jinping aparecem os favorecidos, ou candidatos oficiais, ganhando por altíssimas porcentagens em relação ao segundo colocado. O que interessaria, no caso da engenharia política dos pleitos latino-americanos, seria dar a sensação de que houve um embate forte entre os candidatos, com participação da sociedade, mas o resultado favoreceria, claro, aos candidatos de esquerda. Poupar-se-ia o vencedor da incômoda pecha de ter sido favorecido de uma forma pouco crível no pleito eleitoral. Diríamos que houve um aperfeiçoamento dos cálculos eleitorais, no caso latino-americano, a fim de passar a imagem de uma disputa acirrada corretamente efetivada.
Assim, lembremos, por exemplo, as porcentagens de votos dos candidatos em quatro eleições latino-americanas recentes, em que os candidatos da esquerda ganharam:
• Brasil, eleição presidencial de 2022. Resultados: Lula, 50,88% dos votos válidos, Bolsonaro, 49,12%.
• Colômbia, eleição presidencial de 2022. Resultados: Gustavo Petro, 50,44% dos votos válidos, Rodolfo Hernández, 47,31%.
• Peru, eleição presidencial de 2021. Resultados: Pedro Castillo, 50,125% dos votos válidos, Keiko Fujimori, 49,875%.
• Venezuela, eleição presidencial de 2013. Resultados: Nicolás Maduro, 50,62% dos votos válidos, Henrique Capriles, 49,12%
Os engenheiros do voto, sediados geralmente nos Conselhos Eleitorais, mostraram, portanto, uma sofisticação invejável, de forma a não brigar feio com as expectativas dos votantes. A pouca margem de votos entre os eleitos nesses pleitos, daria a sensação de maior “realismo estatístico”. Afinal de contas, um triunfo estratosférico com mais de 80 ou 90 % dos votos válidos, como ocorre corriqueiramente na China, em Cuba, no Irã, na Russia ou na Nicarágua, poderia ser considerado pouco crível em sociedades que pretendem ser apresentadas pelos engenheiros eleitorais como amplamente diversificadas em grupos de interesses diferentes. Diante dessa sofisticação estatística, não seria difícil que algum governante amigo dissesse que no país em questão “havia até muita democracia”, como Lula falou em relação à Venezuela do regime bolivariano.
A respeito da recente eleição presidencial na Venezuela, o jornalista Lucas Ribeiro escreve, em artigo postado no jornal eletrônico La Gaceta de la Iberosfera, em 01-08-2024: “La «reelección» del autócrata Nicolás Maduro en Venezuela, marcada por alegaciones de fraude y falta de transparencia, continúa generando controversias y afectando la diplomacia internacional. La postura de Lula y del Gobierno brasileño han sido objeto de críticas tanto internas como externas, evidenciando que el apoyo a autócratas es impopular en Brasil y muchos países. Lula, que fue elegido con la narrativa de ser un demócrata, ahora enfrenta constricciones dentro de la opinión pública brasileña al ser visto como un firme aliado de Nicolás Maduro, un dictador ampliamente criticado por violaciones de derechos humanos y represión política. Esta alianza desafía la credibilidad de Lula como defensor de la democracia y pone en tela de juicio la política exterior brasileña”.
O ponto essencial que deve ser levado em consideração, nas eleições venezuelanas de 28 de julho, é o relativo ao registro dos votos depositados nas urnas eletrônicas. O governo Maduro adotou, nas urnas eletrônicas, a alternativa de gerar voto impresso nas máquinas de votação, que seria submetido a escrutínio conjunto, registrando, na contagem de votos, tanto o voto impresso quanto o virtual, a fim de que as comissões de acompanhamento dos escrutínios tivessem conhecimento dos votos válidos. Um voto que não fosse registrado por escrito, seria nulo, portanto. Ora, as comissões de verificação, integradas pelos membros do Conselho Nacional Eleitoral e por membros dos partidos da oposição, uma vez finalizado o horário eleitoral, começaram a verificar dessa forma as urnas, contando os votos eletrônicos respaldados pelas suas respectivas impressões.
Os resultados dessa verificação foram sendo divulgados pela internet, com a conhecida surpresa de uma superioridade sensível do número de votos a favor do candidato da oposição, em face dos votos depositados em prol de Maduro. Quando o candidato oficial e presidente do pais tomou conhecimento do resultado parcial, altamente vantajoso para o candidato da oposição, decidiu cancelar a apuração, alegando que tinha havido um “apagão”. Paralelamente, o ditador Maduro deu a ordem para que o Exército Bolivariano sequestrasse todas as urnas pelo país afora. Mas o mal já estava feito, com as comissões de verificação constatando, ao mesmo tempo, em várias áreas do país, que o candidato oposicionista ganharia o pleito por ampla margem, se continuasse a verificação em andamento.
Os países latino-americanos cujos representantes para acompanhar a eleição tinham sido impedidos por Maduro de embarcar rumo a Caracas, decidiram, então, exigir do governo venezuelano a total divulgação dos resultados eleitorais, anexando, mesa por mesa, as atas de apuração. Semelhante exigencia fez o governo dos Estados Unidos, sendo que a Comissão Carter tinha acompanhado as eleições, tendo observado sérias irregularidades no processo de votação, relacionadas com a ausência de liberdade de locomoção dos representantes da oposição e a não divulgação das atas de votação. Foram claras as exigências feitas pelos governos dos Estados Unidos e dos países europeus, para que fossem respeitadas as regras do jogo, dando publicidade às atas da eleição e permitindo aos observadores internacionais a verificação dos documentos pertinentes. Diante da negativa do governo ditatorial de Maduro de cumprir com essas exigências, a vitória do atual mandatário nas eleições de 28 de julho não foi reconhecida. O governo brasileiro, por sua vez, não tomou nenhuma providência nesse sentido, em espera de que se cumpram as exigências apresentadas pela comunidade internacional.
Na 6ª feira 2 de agosto, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, frisou em comunicado de imprensa: "A rápida declaração do CNE de que Nicolás Maduro seria o vencedor das eleições presidenciais não veio acompanhada de provas. O CNE ainda não publicou dados desagregados ou qualquer um dos editais, apesar dos repetidos apelos dos venezuelanos e da comunidade internacional". A decisão americana foi fundamentada, também, na avaliação do Carter Center (que goza de grande prestígio junto ao governo americano e que enviou observadores para a eleição venezuelana). Segundo Blinken, o Carter Center concluiu que a eleição não teria respeitado "parâmetros e padrões internacionais para processos eleitorais". O comunicado de Blinken concluiu da seguinte forma: “Conforme relatado pela missão de observação independente do Carter Center, a falha do CNE em fornecer resultados oficiais a nível distrital, bem como as irregularidades ao longo do processo, retiraram qualquer credibilidade do resultado anunciado pelo CNE”.