
CAPA DO LIVRO DO PROFESSOR ANTÔNIO FREDERICO ZANCANARO - A CORRUPÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA NO BRASIL (SÃO PAULO: ED. ACADÊMICA, 1994, 164 PP.).
Conheci o Professor Antônio Frederico Zancanaro em 1979, quando, vindo da Colômbia, trabalhei na Editora Convívio de São Paulo, como pesquisador e palestrante do Centro de Estudos do Desenvolvimento, fundado pelo Professor Adolpho Crippa (1929-2000). Ao longo dos anos 79, 80 e 81, viajei a várias cidades brasileiras, algumas vezes em companhia do Prof. Antônio Frederico e do seu irmão, o professor Lourenço Zancanaro, para proferir palestras acerca do desenvolvimento brasileiro e a reforma das instituições políticas, ao ensejo da abertura política programada pelo governo militar. O prof. Antônio Frederico mudou-se para Londrina, no Paraná, em cuja Universidade Estadual tinha prestado concurso como docente. Convidou-me para conhecer essa bela cidade e a Universidade, que tinha aberto novo concurso na área da História e Filosofia. Fiz inscrição no concurso, no qual fui aprovado e, no final de 81, mudei-me para a acolhedora cidade paranaense. Tenho, portanto, com o professor Antônio Frederico, uma dívida de gratidão, pela oportunidade que me abriu com o seu convite para conhecer a Universidade Estadual de Londrina. Antônio Frederico foi meu aluno no Curso de Doutorado em Pensamento Luso-brasileiro, desenvolvido pela Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. Ali ele escreveu o texto da sua tese, que seria publicada anos depois, em 1994, pela Editora Acadêmica de São Paulo, com o título: A corrupção político-administrativa no Brasil ('164 páginas). Nessa obra, o autor desenvolve fundamentada reflexão acerca dos alicerces éticos, filosóficos e teológicos da participação dos cristãos, notadamente os católicos, na ação política. Chama a atenção para o obstáculo criado ao ensejo da corrupção político-administrativa (endêmica na nossa cultura), face à participação de cidadãos idôneos na luta político-partidária, destacando o papel de liderança que cabe aos cristãos nesse contexto. O artigo ora publicado sintetiza aspectos fundamentais do pensamento de Antônio Frederico Zancanaro a respeito desse importante tema.
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No atual período eleitoral, foi-nos dada uma ótima oportunidade para avaliarmos a profundidade de nossa adesão aos ensinamentos do Mestre de Nazaré. Quão longe estamos ainda de viver o modo de vida proposto por Ele nas Regras do Reino. A desinformação, a mentira, a calúnia, a distorção dos fatos, as afirmações cheias de insinuações destruidoras da dignidade da pessoa, as propostas e objetivos políticos escondidos em palavras pronunciadas sem a devida análise - minimamente racional - mostraram o de quanto a maldade humana é capaz.
Há que se reconhecer que a atividade política é intrínseca à vida humana em coletividade. Os cidadãos se aglutinam em Partidos Políticos. Partido é parte. Todo Partido possui ideologia, regras e ações programáticas que, o indivíduo filiado imagina serem mais adequadas para a realização das tarefas que minorem as carências sociais. O objetivo último é a realização do bem comum. Cada cidadão possui o direito intransferível de se filiar ao Partido que melhor se afinar com seu modo de pensar, sua ideologia, sua maneira de ver as soluções adequadas e sua disposição e capacidade de contribuir para a realização do bem da coletividade local e/ou nacional.
É de lamentar quando a sociedade se depara com Partidos Políticos que estabelecem ações programáticas ambíguas, pouco exequíveis, floreadas por palavras e discursos que camuflam as reais intenções e propósitos ou prometem solucionar tudo, sem dizer como. Tem-se visto muitos povos serem tragados pelo abismo ideológico, movido por promessas de soluções fáceis para os problemas da vida coletiva. Muitos deles se deparam, hoje, com uma população nivelada por baixo, enquanto seus dirigentes usufruem de todas as benesses do poder e vivem num padrão de vida que é negado à maioria dos cidadãos.
Os cristãos, enquanto cidadãos, também se filiam a Partidos Políticos. É um direito natural. E, isso é muito bom. É importante e necessário que assim o façam. Eles têm muito a dizer e a contribuir no seio do Partido Político que escolheram para sua militância.
E os dirigentes das comunidades cristãs – Bispos, Sacerdotes, Pastores, religiosos e ministros do altar? Como agir politicamente, enquanto cidadãos? Como se posicionar frente à ideologia e ações programáticas de diferentes Partidos, aos quais membros de sua comunidade estão filiados e que pregam comportamentos e ações contrários aos princípios e valores da fé cristã?
Há que se reconhecer que a grande maioria desses dirigentes, pouco ou nada leram ou estudaram sobre os meandros da atividade política e partidária, longamente refletida e esmiuçada pelos grandes pensadores da Democracia Moderna. Possuem apenas, quando isso ocorre, uma noção empírica daquilo que, na sua visão política voluntarista, propõem como solução perfeita aos múltiplos e intrincados problemas coletivos.
Da parte de muitos dirigentes cristãos, há posicionamentos dignos dos homens de fé. São aqueles que compreenderam, pela raiz, a proposta transformadora do mundo que o Mestre fez nas Bem-aventuranças e nas Parábolas do Reino. Nelas a pedagogia e a lição moral propostas são auto evidentes. Preciso será, praticá-las.
Nos dias que correm, líderes comunitários têm feito postagens estranhas, manifestos aderentes a determinados Partidos, cuja ideologia e programas contrariam os ensinamentos que o Mestre propôs como caminho irrenunciável à construção de um mundo fraterno e justo como casa adequada e boa para todos. É uma questão de conteúdo e de método. O cristão não pode ser omisso, ficar em silêncio. Tem muito a propor dentro do Partido ao qual está filiado.
Alguns anos atrás, um paroquiano que se lançara candidato a Vereador pediu ao Pároco da comunidade autorização para promover sua candidatura no espaço da Igreja, de forma exclusiva. Que posição tomar? Após reflexão cuidadosa, a conclusão foi taxativa:
1. Todo cristão, enquanto cidadão, possui a prerrogativa de se tornar candidato ao cargo público pelo Partido Político ao qual está filiado.
2. No espaço religioso da comunidade encontram-se indivíduos de diferentes Partidos, com diferentes tendências políticas e programáticas. Por questão de isonomia, todo candidato da comunidade teria o direito de usar o espaço para promover sua candidatura e o programa do seu Partido.
3. Enquanto membros da comunidade cristã, não importa o Partido Político ao qual estejam filiados, por suposição, todos fizeram adesão aos ensinamentos e programa de vida do Mestre desse Partido de fé que é a Igreja. O Partido do Mestre possui princípios e valores que são inegociáveis. Aqueles que lá se reúnem comungam todos de um programa de vida que, pelo falar e agir no seio da comunidade em que vivem, assumiram o compromisso de gerar transformação em busca do bem de todos.
4. O cristão que assume cargo público, para exercer a função pública, para a qual foi eleito, há que colocar como norte de suas palavras e ações os princípios e valores que regem sua conduta quando se encontra no espaço de sua Igreja, na rua, no tralho, ou em sua casa. As regras de conduta do cristão, seguindo a ideologia do Partido Político ao qual está filiado, não podem conflitar com os princípios e valores ensinados pelo Mestre de Nazaré.
5. Bispos, Sacerdotes, Pastores e demais dirigentes de comunidades cristãs que pregam, apoiam e promovem outras ideologias ou doutrinas, voltadas à relativização da vida, da família, da liberdade, da Pátria, do direito à propriedade, e outros, provocam divisões na comunidade e demonstram não haver entendido ainda o sentido profundo do ensinamento do Mestre. “Ai daqueles que escandalizarem a um desses pequeninos que creem em mim!” (Mt 18,6).