Voltar

INCERTEZAS GLOBAIS, MAU-CARATISMO DOS GRANDES E ALGUNS LAMPEJOS DE RACIONALIDADE

INCERTEZAS GLOBAIS, MAU-CARATISMO DOS GRANDES E ALGUNS LAMPEJOS DE RACIONALIDADE

MEGA SECA NO ANO 2021

Terminou o Encontro de Glasgow e, entre os inúmeros fatos registrados, gostaria de destacar quatro pontos: em primeiro lugar, a ambiguidade dos dois grandes da economia mundial, Estados Unidos e China, os quais, na maior cara de pau, num conclave que era decisivo para reverter o efeito estufa, simplesmente ignoraram as expectativas dos países e governos pelo mundo afora, no sentido de maior comprometimento com a questão climática, e deixaram claro que continuarão com as suas atividades econômicas ultra poluentes, como aquelas movidas à queima de carvão. A eles se somou a Índia que, pelo menos, pode alegar que ainda não chegou ao clube dos países hiper desenvolvidos.

Em segundo lugar, em que pese o fato negativo apontado, deve-se destacar um aspecto positivo: os principais poluidores comprometeram-se a, em 12 meses, explicar à ONU de que forma as suas políticas econômicas se ajustarão aos objetivos do teto de aquecimento global assinalado no Acordo de Paris. Segundo informava o Portal Clima Info, “Embora a promessa de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis tenha sido enfraquecida por um acordo de última hora entre a China (...), os EUA (...), a União Europeia e a Índia, ela ainda consta do texto final. Apesar da mudança de ‘eliminação gradual’ para ‘redução gradual’, pela primeira vez a principal causa da crise climática foi explicitada pelos 198 signatários do Acordo de Paris” [“COP26 encerrada: saiba das principais decisões” - https://climainfo.org.br/ ] .

Um terceiro ponto positivo pareceu-me a decisão do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai da criação de um novo grupo de negociação sobre mudanças climáticas, em anúncio feito após a reunião dos ministros do Meio Ambiente dos quatro países. A respeito, a nota oficial divulgada frisava: “Essa é a primeira vez que os quatro integrantes do Mercosul unem esforços em favor da busca de soluções comuns e efetivas para o problema da mudança do clima. Os quatro países compartilham valores e interesses comuns, como atesta a ampla coordenação que mantêm no âmbito do Mercosul, marco da integração regional” [Agência Brasil, in: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/breves/cop-26-paises-mercosul-criam-grupo-negociacao-mudanca-climatica/ ].

O quarto e último ponto que gostaria de destacar não diz relação exclusiva à reunião de Glasgow, mas se estende à política e à economia mundiais como um todo. O conhecimento digital de inumeráveis variáveis deu aos países mais desenvolvidos a falsa ideia de que, a partir da manipulação dos “Big Data”, poderiam equacionar todas as variáveis e, a partir daí, saltar para uma espécie de “Ditadura Científica” sobre o resto da Humanidade. Ora, a história está aí para mostrar que ninguém neste mundo pode-se considerar o “dono da bola”. Os imponderáveis fazem parte da História Humana. A crise afegã, que deixou os Estados Unidos reféns de uma saída atabalhoada do país por eles ocupado (repetindo a saga já sofrida, no século XX, pelos russos), bem como a crise do Covid 19 que golpeou todo mundo, são alertas para os que, fantasiosamente, ainda acham que dão conta de tudo.

Segundo destacava ponderada análise da Revista britânica The Economist [“Como o tempo real vai mudar as políticas econômicas”, The Economist – Estadão, 2 de novembro de 2021], “O maior perigo é o excesso de confiança. Com um panóptico da economia, será tentador para os políticos e autoridades acreditar que podem ver um futuro distante ou moldar a sociedade de acordo com suas preferências e favorecer grupos específicos. Este é o sonho do Partido Comunista da China, que visa a se envolver em um tipo de economia planificada digital. Na verdade, nenhuma quantidade de dados pode prever o futuro com segurança. As economias dinâmicas e incrivelmente difíceis de se entender não dependem do Big Brother, mas do comportamento espontâneo de milhões de empresas independentes e consumidores. A economia instantânea não é sobre clarividência ou omnisciência. Pelo contrário, sua promessa é trivial, mas transformadora: tomar decisões melhores, mais racionais e no momento certo”.