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GOVERNO DO DESGOVERNO

O jornalista Douglas Gavras, no seu artigo intitulado: “Cresce pessimismo com a economia desde a posse do Lula, aponta Datafolha” (Folha de S. Paulo, 03 de abril, de 2023, p. A 13), faz um balanço pessimista do panorama econômico brasileiro. Frisa que “O percentual de brasileiros que esperam piora da economia aumentou, aponta a primeira pesquisa Datafolha sobre o tema no governo Luiz Inácio da Silva (PT), realizada nos dias 29 e 30 de março em 126 municípios (...). A deterioração das expectativas se nota entre os que preveem aumento da inflação, que saltaram de 39% para 54 % - os entrevistados que acreditam em queda caíram de 31% para apenas 20%. Quanto ao desemprego, 44% esperam alta, ante 36% há três meses. Para 31%, haverá piora no poder de compra, alta de dez pontos”.

Leandro Ruschel, por sua vez, em 01/04/2023, no seu comentário intitulado: “O arcabouço fiscal de Haddad aponta para inflação e aumento de impostos”, frisa o seguinte: “Marcos Mendes e Marcos Lisboa apresentaram um estudo no Brazil Journal, mostrando que a proposta de arcabouço fiscal do Haddad é uma peça de ficção. (...). Os autores especulam que a única forma do governo alcançar a meta mínima de superávit seria através da inflação. Talvez o plano seja esse mesmo. A única certeza dessa proposta é o aumento sistemático dos gastos públicos, que já são elevados e mal empregados. Ao invés de reformar o estado para racionalizar os gastos, estamos observando a expansão deles sob o falso pretexto de ‘incluir o pobre no orçamento’. A verdade é que o descontrole das contas públicas afeta exatamente os mais pobres, justamente pelo crescimento da inflação, que é um imposto escondido. Resumindo, o único aspecto positivo desse plano é o fato de ele ser melhor do que nenhuma trava para os gastos públicos. Mas, se for aprovado do jeito que está, representará o aumento tumoral do tamanho do estado, que já é grande demais e esmaga os brasileiros que produzem riqueza”.

Paralelamente, e para complicar o panorama, frisa Ruschel, referindo-se ao complexo panorama da economia internacional que assoma no horizonte, particularmente dos BRICs: “Esta semana vimos o seguinte: 1. A Arábia Saudita concordou em ingressar na Organização de Cooperação de Xangai como parceiro de diálogo. 2. China e Brasil concordaram em abandonar o dólar no comércio. 3. A China e a França concluíram a primeira troca de GNL liquidado em yuan. 4. Os países da ASEAN estão considerando retirar o dólar, o euro, o iene e a libra esterlina das transações financeiras. 5. Aprendemos que a moeda de reserva do BRICS poderia ser respaldada por ouro e outras commodities, como elementos de terras raras. Tudo isso aconteceu em sete dias. Ao mesmo tempo, o mundo começa a entender que o bloco BRICS logo se expandirá significativamente. As pessoas ficam surpresas com o fato de a Arábia Saudita trabalhar em estreita colaboração com a China. Houve muitos sinais, inclusive em 2021, quando a Saudi Aramco disse que a segurança energética da China seria sua principal prioridade nos próximos 50 anos”.

Sintetizando: temos, em primeiro lugar, dois elementos do nosso panorama econômico interno, de caráter negativo: o descontrole das contas públicas com aumento exponencial do gasto do Estado que, em segundo lugar, afetará aos mais pobres. Panorama negativo patrocinado pelo tradicional estatismo de índole populista que acompanha a Lula e aos ministros de sua confiança como Haddad, nas considerações econômicas. Temos, em segundo lugar, um panorama internacional complexo e crítico, que apresenta o desgaste dos tradicionais mecanismos que pautavam o comércio internacional, alicerçado no dólar e outras moedas fortes como o euro, o iene ou a libra como moeda de troca e que pressupunha o saneamento das contas públicas dos países, como forma de alavancar as trocas internacionais. Apresenta-se a novidade de um novo panorama em que a China e a Rússia entram, junto aos BRICs, para abrir um novo balcão de negócios à margem do dólar, alicerçado em moedas locais como o yuan chinês e o rublo russo, sem que se tenha desenhado, previamente, de que forma a nossa combalida economia se ajustará a esse cenário, para não piorar as suas condições econômicas internas. O caminho tradicional ainda continua sendo o das trocas internacionais contabilizadas em dólar e dentro de um panorama de previsibilidade caraterizado pela higidez do mercado doméstico, centrado no controle à inflação e ao gasto público.

A sensação de incerteza do panorama internacional e a percepção da índole estatizante e irresponsável do governo Lula, são duas condições negativas que pressionam as nossas previsões para baixo, com um panorama sombrio do que poderá acontecer à economia brasileira nesse novo mundo confuso. Certamente, se tivéssemos a casa em ordem, com um gasto público rigorosamente controlado, com a inflação devidamente disciplinada e com a preservação das nossas reservas em dólares, estaríamos melhor do que com as atuais incertezas estruturais internas.

Sempre me impressionou, ao longo da campanha presidencial de 2022, a absoluta desfaçatez com que o candidato Lula tratou o seu programa econômico, literalmente não definindo nenhuma linha mestra de pensamento, se concentrando no discurso palanqueiro do estatismo como forma de responder às necessidades do povo. O que se viu durante a transição foi um carnaval de irracionalidades, começando com o furo do teto de gastos do Estado, com o PT pedindo, de entrada, 200bi para início de conversa, sem indicar a forma em que tal montante seria arrecadado e sem dar a mínima bola para os interrogantes provindos da sociedade civil, que é a que paga a conta.

Começo ruim nestes primeiros cem dias de “governo do desgoverno”. Virá ainda mais retórica, com Lula ululando aos quatro ventos que a culpa é dos desmandos de Bolsonaro e das “armações” do senador Sérgio Moro. E para piorar o cenário, com a sensação de impunidade total para o crime organizado que domina alegremente as mais de 1.200 favelas do Rio de Janeiro, além dos presídios em nível nacional e da restante parte das “comunidades” reféns dos narcotraficantes de norte a sul do país. O panorama crítico adota tons apocalípticos com o Papa Francisco benzendo Lula e Dilma como duas inocentes pombas da paz e da honestidade. Definitivamente o panorama é sombrio. Haja fé, oração e muita reflexão para fazermos frente a esse complicado momento.