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ERNANE GALVÊAS (1922-2022), UM EMINENTE ECONOMISTA A SERVIÇO DO BRASIL

ERNANE GALVÊAS (1922-2022), UM EMINENTE ECONOMISTA A SERVIÇO DO BRASIL

SEDE DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO NO RIO DE JANEIRO

Conheci Ernane Galvêas quando do meu ingresso no Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio do Rio de Janeiro, em 1990. O ex-Ministro da Fazenda desempenhava a função de Consultor Econômico da Presidência da Confederação Nacional do Comércio desde 1988, cargo que ocupou até o seu falecimento em 2022. Tornaram-se famosos os seus pontos de vista sobre a economia brasileira, apresentados com regularidade no espaço intitulado: “Síntese de Conjuntura”, publicado regularmente na Carta Mensal, órgão da Confederação Nacional do Comércio. Surpreendiam-me a precisão dos dados macroeconômicos apresentados pelo ex-Ministro da Fazenda, bem como o seu conhecimento detalhado das variações da economia mundial e do que se passava, nessa seara, no cenário brasileiro.

A “Síntese de Conjuntura” constituía uma bússola confiável para todos os que precisassem conhecer as variações do mundo econômico, tanto no plano internacional quanto no palco latino-americano e brasileiro. Eram dados apresentados por quem estava ao dia em matéria de crises econômicas e da variedade de cenários proporcionados pelas mutações das trocas comerciais, sem que prevalecesse a linguagem técnica sobre a claridade. O ex-Ministro Galvêas conseguia fazer uma síntese do momento, destacando o que seria mais sensível para o cenário brasileiro.

Ele conseguia, também, fazer um planejamento real e flexível dos temas que poderiam ser abarcados nos seguintes números da Carta Mensal, para o qual fazia uso da sua enorme capacidade de dialogar com especialistas de várias áreas, sugerindo aos membros do Conselho Técnico (entre os quais figuram ex-Ministros da Fazenda e de outras Pastas, ex-Presidentes do Banco Central, Diplomatas, Oficiais de alta graduação, Professores, Consultores Empresariais, Magistrados, etc.), o que cada um poderia oferecer nos estudos sobre o cenário brasileiro, do ângulo das diferentes especialidades.

A mim, especialista em filosofia e em história das idéias, sugeriu-me temas novos que comecei a explorar nos artigos que encaminhava à Carta Mensal. Foi assim como, sob a acertada orientação do professor Galvêas, fui abrindo o leque das minhas análises para áreas até então inexploradas, como por exemplo, os fundamentos culturais das práticas mafiosas dos cartéis das drogas ou acerca das variações experimentadas pelos nossos países latino-americanos, no que tange ao passado colonial e à peculiar formação dos Estados, à sombra do paternalismo burocrático. Foi assim como alarguei progressivamente os meus horizontes de análise para o pensamento latino-americano, à sombra das variações experimentadas pelas sociedades inseridas no capitalismo, ao longo de ciclos que abarcavam vários séculos. Passei a me interessar por temas limítrofes como, por exemplo, os relativos aos fundamentos econômicos e culturais do nosso passado colonial ou das variações que entre os latino-americanos teve o Estado como distribuidor de benefícios paternalistas. A evolução da economia, dizia-me o professor Galvêas, sempre é acompanhada de ideias específicas quanto ao sentido da vida social e aos requerimentos culturais das necessidades econômicas.

É evidente que só mediante a posse de uma formação pluridisciplinar, junto com o rigor das disciplinas propriamente econômicas, seria possível a um economista de renome como Galvêas, orientar o trabalho de outros pesquisadores para que ampliassem, do seu ângulo, as pesquisas sobre a realidade brasileira. O professor Galvêas teve, certamente, uma formação sólida, de caráter multidisciplinar, que o habilitou para esse difícil trabalho de orquestração no complicado contexto de fluxo de informações e de ideias de quadrantes diferentes. Galvêas, formado inicialmente em Economia e Direito, aprofundou no sentido amplo dessas disciplinas em centros internacionais de indiscutível exigência acadêmica, como o Centro de Estudos Monetários Latino-Americanos do México, o Economic Institute da Universidade de Wisconsin ou a Yale University, onde fez o seu Mestrado.

Desde cedo, na sua vida profissional, Galvêas se familiarizou com as peculiaridades da economia brasileira no contexto latino-americano e mundial. Integrou a delegação brasileira na reunião do Conselho Interamericano Econômico e Social da Organização dos Estados Americanos, que criou a Aliança para o Progresso (em 1961). Trabalhou também no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em 1962. Foi assessor Econômico do Ministério da Fazenda no governo do general Castelo Branco (1964-1967), na gestão do Ministro Octavio Gouvêa de Bulhões. Foi diretor da Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil (1964-1967). Desempenhou a função de Presidente do Banco Central entre 1967 e 1974 e entre 1979 e 1980, ao longo dos governos dos generais Costa e Silva e Médici. Culminou a sua carreira na administração pública, ocupando o cargo de Ministro da Fazenda entre 1979 e 1983.

No terreno acadêmico, Galvêas foi professor da cadeira de Moeda e Crédito da Faculdade de Economia e Finanças do Rio de Janeiro. Foi professor de Comércio Internacional na Faculdade de Ciências Econômicas do Estado da Guanabara. Foi também professor da Fundação Getúlio Vargas e do Curso de Análise Econômica, na Pós-Graduação do Conselho Nacional de Economia.

No terreno da assessoria corporativa desempenhou, ao longo do período que vai de 1988 até 2022, o cargo de Consultor Econômico da Presidência da Confederação Nacional do Comércio, no Rio de Janeiro.

As obras publicadas pelo nosso autor dão testemunho da sua aprofundada formação econômica, voltada para o estudo da realidade brasileira. Menciono, para terminar, as suas principais obras: Brasil: fronteira do desenvolvimento (Rio de Janeiro, APEC Editora, 1974); Brasil: desenvolvimento e inflação (Rio de Janeiro, APEC Editora, 1976); Brasil: economia aberta ou fechada? (Rio de Janeiro, APEC Editora, 1982); Aprendiz de empresário (Rio de Janeiro, Livro Técnicos e Científicos Editora, 1983); Sistema Financeiro e Mercado de Capitais (Rio de Janeiro, IBMEC, 1985); A Saga da Crise (Rio de Janeiro, Ed. Forense Universitária, 1985); A Crise do Petróleo (Rio de Janeiro, APEC Editora, 1985); As Duas Faces do Cruzado (Rio de Janeiro, APEC Editora, 1987); Inflação, Déficit e Política Monetária (Rio de Janeiro, CNC, 1985); Crônicas Econômicas: Análise retrospectiva (2002/2005); Crônicas Econômicas: Análise retrospectiva (2006/2010).