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EIITI SATO - AS VIRTUDES DOS NOVOS PROFISSIONAIS COMO ELEMENTO DE COESÃO SOCIAL (DISCURSO PRONUNCIADO NA FORMATURA DOS ALUNOS DO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA UNB)

Magnífica Reitora da UnB, Professora Márcia Abrahão Moura.

Senhor Diretor do Instituto de Relações Internacionais, Professor Pio Penna Filho.

Senhor Coordenador do Curso de Bacharelado em Relações Internacionais, Professor Antonio.

Jorge Ramalho da Rocha.

Senhor Vanderlei Crisóstomo Valverde, Assistente da Direção e

Chefe da Secretaria do IREL.

Demais autoridades acadêmicas e professores presentes nesta cerimônia.

Senhores pais, familiares, amigos e convidados dos Formandos em Relações Internacionais da UnB do Primeiro Semestre de 2021.

Meus Caríssimos Formandos,

Sejam todos muito bem vindos a esta cerimônia de Graduação dos estudantes de Relações Internacionais da Universidade de Brasília referente ao Primeiro Semestre de 2021. Fico muito feliz e honrado em poder dirigir-lhes a palavra nesta cerimônia que será, para sempre, um marco de referência em suas vidas.

De fato, neste momento, formalmente, vocês iniciam sua vida profissional, que será uma das facetas definidoras das trajetórias de suas existências, como cidadãos deste país, e também como cidadãos do mundo. A prática desta cerimônia remonta aos primórdios da Universidade, quando a graduação acadêmica tinha um significado parecido com o daquele que recebia seu grau de Cavaleiro.

A cerimônia que transformava um homem em um cavaleiro, tinha um sentido sagrado. O cavaleiro recebia suas armas e suas esporas prestando um juramento solene de que as usaria sempre com honradez na defesa do bem, na proteção das mulheres, dos mais fracos e dos oprimidos, e na observância de sua fé. E, tal como se fazia antes, para os que se graduam hoje na Universidade, ao invés das armas e das esporas, recebem seu diploma em testemunho de sua formação intelectual e de sua educação diferenciada de “scholars”, portadores de um compromisso solene de integridade para com o conhecimento e para com a sociedade.

Meus caros formandos, neste dia, chamo sua atenção para esse sentido original desta cerimônia por entender que, entre os muitos significados, esse compromisso solene de honradez e de integridade, típicos de todas as cerimônias de formatura, tem sido um dos aspectos mais negligenciados e carentes em nosso tempo. Neste mundo de hoje, são muitos os desafios a serem enfrentados, há injustiças a serem combatidas, há milhões de desvalidos à espera de que alguém lhes estenda a mão e que faça valer suas habilidades e seus conhecimentos para tornar este mundo um lugar menos indiferente e mais humano.

Hoje, em um mundo feito de nações organizadas em Estados Nacionais, um dos grandes desafios de todo cidadão é lutar para que a sua nação seja livre, independente e próspera. No passado, o cavaleiro, jurava usar sua espada e suas habilidades com honradez, com humildade, e com benevolência na promoção do bem e da justiça de seu tempo. Os tempos mudaram, mas os objetivos do solene compromisso da Graduação continuam os mesmos, ainda que seja com palavras diferentes.

De fato, quando olhamos com mais atenção para este nosso mundo vemos que, apesar das aparências, o mundo não mudou tanto. Continua carente de honradez, de humildade, de compaixão, e de benevolência. Quando olhamos nosso mundo, como no passado, continuamos vendo a pobreza, a solidão e o desamparo de boa parte das populações. As imagens desse quadro aparecem sob muitas formas, não apenas na forma de pedintes nas ruas e de moradias precárias, mas também na forma de filas intermináveis e de aglomerações degradantes à condição humana, impostas pelas autoridades àqueles que necessitam de transporte público ou de qualquer outro tipo de serviço público. Em nosso tempo, os sintomas da miséria humana aparecem também na forma de sistemas informatizados inoperantes que enchem de angústia e de frustração as populações que não conseguem obter documentos pessoais simples, mas necessários à sua condição de cidadãos.

No plano internacional, aparecem na forma de levas de migrantes que deixam suas casas e seus países porque suas elites e seus líderes virtualmente abandonaram seus povos, tornando-se verdadeiros tiranos ou simples parasitas, muito embora sua retórica melíflua fale sempre de defesa da democracia. São muitas, portanto, as versões modernas do sofrimento a que o ser humano pode ser submetido quando seus governos e suas elites não honram suas posições na sociedade.

Por que, um país tão bem aquinhoado pela natureza como o Brasil, empobreceu diante do mundo nos últimos 20 anos? Pode-se perguntar também por que o terrorismo, os conflitos armados, a criminalidade e a violência - inclusive doméstica – tanto no âmbito nacional quanto internacional têm produzido tanto sofrimento a tanta gente?

Na essência, vamos encontrar a resposta de sempre: um ambiente carente de virtudes como elemento de coesão social. Um ambiente em que o conhecimento e a riqueza de meios materiais estão desacompanhados das boas e velhas virtudes não é muito diferente de um luxuoso trem que viaja sem destino, enquanto seus passageiros se mantém indiferentes entre si e, principalmente, indiferentes em relação ao que se passa lá fora.

Nesta derradeira mensagem aos Formandos da UnB em Relações Internacionais, me pareceu difícil pensar em algo mais apropriado do que refletir sobre o que fazer com os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Há que se reconhecer que são conhecimentos adquiridos com muito esforço e muita dedicação, não apenas nas salas de aula (presenciais ou virtuais), mas também nas leituras e nas experiências vividas em um período da vida no qual se frequenta a universidade, em muitos casos sem o conforto de suas famílias, de seus amigos de juventude e dos lugares familiares em que cresceram. Não há receitas prontas para se enfrentar os grandes problemas de nosso tempo, inclusive porque há mudanças constantes na forma de produzir a riqueza e nos padrões que orientam a ordem social, isto é, há mudanças contínuas nas instituições políticas, econômicas e sociais.

Na realidade, as mudanças tornaram-se uma verdadeira marca de nosso tempo. Em tal quadro, curiosamente, se existe alguma receita de sucesso que se afigura mais próxima de nós, ela parece vir da Antiguidade longínqua. Ulisses não frequentou qualquer curso sobre “como vencer uma guerra difícil e prolongada”, mas sua liderança foi decisiva para derrotar as muralhas e a resistência dos troianos. Ulisses não fez curso para saber como vencer gigantes e feiticeiras com seus poderes mágicos, mas derrotou o gigante Polifemo e a ardilosa deusa Circe. Além disso, as aventuras e os feitos do herói tinham um objetivo bem humano e, para muitos, bem prosaico: voltar para casa, retornar à sua família e a seu povo. Ulisses não era um semideus com poderes sobre-humanos, era um homem, um simples homem mortal. E quais eram as armas de que dispunha? Eram apenas as armas disponíveis para todos os mortais: além da coragem, outras virtudes como o discernimento, a prudência e a determinação, que tornam os homens capazes de transcender as limitações e as fragilidades da condição humana. As lendas dizem que, no fundo, os deuses do Olimpo invejavam os humanos exatamente porque somente os humanos podiam ser como Ulisses – um simples mortal, capaz de realizar feitos imortais.

Meus caros formandos, parabéns pela conclusão deste curso com sucesso. Na condição de alguém que espera merecer sempre sua amizade, deixo aqui os votos de muito sucesso pessoal e profissional, e que tenham muita coragem e muita disposição para, doravante, ajudar a preencher os vazios de um mundo carente de inspiração moral e de sentido humano para suas conquistas.

Brasília, 9 de Dezembro de 2021

Professor Eiiti Sato, Paraninfo da Turma

I N S T I T U T O   D E   RE L A Ç Õ E S   I N T E R N A C I O N A I S   DA 

UNIVERSIDADE  DE  BRASÍLIA