Aos poucos, mas com firmeza, Lula cumpre o que promete: “vou f... com o Moro!”. Vingativo, o nosso Macunaíma dos trópicos, como dizia o professor Olavo de Carvalho (1947-2022), não enganou ninguém: sempre falou o que ia fazer. E cumpriu o prometido. É bobagem achar que Lula é mais um populista. É, antes de mais nada, um comunista (e não estou fazendo aqui apreciações caluniosas, pois ele mesmo disse que sentia orgulho de ser chamado de tal). O proceder de Lula é de tipo totalitário. Que quer implantar o comunismo no nosso país, disso não tenhamos dúvida. A presidente do PT já está aplainando o terreno, com o “encontro de trabalho” já programado com o diretor máximo do PC chinês, marcado para acontecer em Brasília ao longo das próximas semanas.
Lula é, também, ao mesmo tempo, além de simpático ao comunismo, um vingativo. Age movido pela vingança e o ressentimento. Saiu da cadeia prometendo que ia acabar com a raça dos que o colocaram lá. Moro, especialmente. Mas a sua vingança se estendeu, célere, a toda a operação Lava-Jato, que terminou sendo asfixiada pelos juízes lulistas do STF-TSE.
A vingança com relação a Moro está eclodindo agora, ao ensejo do julgamento a que a eleição dele como senador pelo Paraná está sendo submetida pela Justiça Eleitoral. O capítulo final da derrocada do corajoso ex-juiz, tem, como ator principal, o Tamanduá da narrativa, o ex-ministro da justiça, o também ex-juiz Flávio Dino, que, sorridente, foi fotografado cara a cara com o também sorridente (e meio sem jeito), Sérgio Moro, naquele abraço instantâneo flagrado pelo Estadão. Que a imprensa tucana aderiu à vingança, não há dúvida, se levarmos em consideração o print da mensagem que o jornalista do Estadão passou ao ex-juiz da Lava Jato. Tudo muito bem calculado para produzir o efeito almejado: queimar definitivamente Moro, tirando-o da vida pública. Só um milagre, e dos grandes, conseguirá salvar o ex-juiz da queda vertiginosa no anonimato. Nem adianta o calmo e educado juiz dizer que cumprimentou Dino como um ato de civilidade entre opostos. Essas filigranas educadas não existem para os petistas. O tal abraço foi de Tamanduá mesmo, em que pese as civilizadas declarações do polido ex-juiz da Lava Jato.
Lembro-me do que dizia o grande François Guizot (1787-1874), aquele Doutrinário que conseguiu erguer o governo representativo e a justa administração da Justiça na França, após a Revolução de 1789 e do Terror jacobino: “Quando a política penetra no recinto dos tribunais, a Justiça se retira por alguma porta”. Ora, ora. A política entrou no recinto dos nossos tribunais, quando o STF e o TSE decidiram virar puxadinhos do PT, para dar o golpe de misericórdia na democracia brasileira, a fim de derrotar definitivamente Bolsonaro e erguer, das sombras da cadeia, o condenado Lula. Daí para cá, a nossa democracia passou, mais uma vez, a ser “relativa” e entrou em cena o novo episódio do “autoritarismo instrumental”, aquela fórmula mágica que permitiria trazer à tona os atores do passado para “revigorar” a democracia, retirando-a pela porta dos fundos do teatro político. Vamos esperar os próximos desdobramentos dessa história que prometem ser candentes.
De tudo podemos morrer neste sufocante verão, menos de tédio. As surpresas correm por conta dos atores da peça, todos eles muito bem treinados na arte de fazer da história uma narrativa de acordo às expectativas de Lula. Faço um pequeno esclarecimento: não morreremos de tédio com o desenrolar dos fatos, tecidos todos eles com a criatividade dos medíocres, que brigam, sempre, com a realidade. Essa eterna repetição do mesmo mantra, cansa. Mas morreremos de tédio, não haja dúvida, com o resultado: sempre, no fim do túnel do novo consulado petista, como nos reinados petistas anteriores, aparecem, invariavelmente, Lula e as suas conveniências políticas e pessoais.
Lembro-me, a respeito, da história política de Napoleão Bonaparte (1769-1821), um expert em tirar coelhos autoritários da cartola dos votos. No seu primeiro golpe, com a promulgação da Constituição de 1799, os franceses, consultados na rua em relação às suas expectativas diante da nova Carta, quando eram perguntados acerca do que haviam encontrado na mesma, respondiam, ao uníssono, com voz tediosa: “Bonaparte!” Jacques Necker (1732-1804), o poderoso ex-Ministro da Fazenda de Luís XVI, aliás, dizia que na Carta de 1799 os franceses poderiam encontrar mais um elemento que se repetiria no regime do jovem general: medo. A partir dessa Constituição, todos teriam medo, menos o primeiro Cónsul, Bonaparte. É o tédio existencial que causam todos os déspotas, desde Nabucodonosor e Nero, na Antiguidade, até Lula, o nosso Macunaíma dos trópicos, “o herói sem nenhum caráter”, conforme a designação da genial obra do escritor modernista Mário de Andrade (1893-1945).