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ALTA TECNOLOGIA EM SAÚDE

ALTA TECNOLOGIA EM SAÚDE

DRA. KATIA GALVANE



No final da tarde do dia 16 de agosto teve lugar, como de praxe, mais uma Live do grupo “Altos Papos”, coordenado, desde Campinas, pelo Dr. Antônio Roberto Batista, com a presença de empresários, médicos, dirigentes da indústria farmacêutica, figuras destacadas da gestão educacional, professores universitários e estudiosos das questões relacionadas à formulação de Políticas Públicas para o Desenvolvimento e a Democracia.

A palestra sobre o tema que dá título a este post esteve a cargo da Dra. Katia Galvane, médica que se especializou em pesquisas relacionadas com o impacto benéfico que pode ter a prática da medicina graças à alta tecnologia. A Dra. Galvane é Diretora de Insurance - Health na NTT Data Company, em São Paulo.

O tema é de capital importância e saltou ao primeiro plano dos debates que polarizam as atenções da opinião pública, ao ensejo da pandemia de Covid-19 e das suas repercussões nos sistemas de saúde, pelo mundo afora.

Na sua exposição, que teve uma excelente acolhida por parte da plateia virtual, em decorrência do amplo conhecimento da palestrante acerca do tema tratado e da atualidade das suas considerações, a dra. Katia Galvane destacou, entre outros, três aspectos: 1 - Alta tecnologia em saúde e racionalização dos recursos destinados a esse setor (tanto no âmbito público como no privado). 2 - Alta tecnologia em saúde e aperfeiçoamento na formação dos futuros médicos. 3 - Alta tecnologia em saúde e aprimoramento da educação em geral.

No que tange ao primeiro ponto (Alta Tecnologia em saúde e racionalização dos recursos destinados a esse setor, tanto no âmbito público como no privado), a Dra. Galvane destacou que as novas tecnologias têm uma importância fundamental quando aplicadas na área médica, porque facilitam: a - tratamentos de ponta em várias especialidades, para o equacionamento mais rápido e seguro de problemas de saúde e b - novas formas de gestão, que potencializam a eficácia das soluções adotadas, baixando custos e possibilitando uma adequada avaliação dos resultados obtidos.

Novas formas de comunicação dos médicos com os seus pacientes, como as oferecidas hoje pela tecnologia digital, tornam mais eficazes os tratamentos propostos, notadamente para setores sensíveis da sociedade como crianças com necessidades especiais e pessoas de idade avançada [cf. Toledo, 2022: A4].

No que tange ao segundo ponto (Alta Tecnologia em saúde e aperfeiçoamento na formação de futuros médicos), não há dúvida de que são positivos os resultados que daí surgem, porquanto possibilitam o direcionamento da formação profissional para novos problemas emergentes, permitindo aos gestores (e à sociedade, em geral) uma mais objetiva avaliação dos resultados propostos. As novas tecnologias digitais nos processos de ensino já estão sendo utilizadas profusamente, resultando da adoção de novas técnicas de ensino à distância, por exemplo, um enriquecimento na transmissão do conhecimento e na avaliação adequada dos processos de aprendizagem.

No relacionado ao terceiro ponto (Alta Tecnologia em saúde e aprimoramento da educação em geral) o interessante é que do equacionamento dele surge a possibilidade de direcionar o ensino básico e fundamental ministrado à sociedade como um todo, para mudar atitudes tradicionais que dificultam os tratamentos propostos. Frisava a Dra. Galvane que é necessário mudar hábitos que impedem uma adequada utilização dos serviços de saúde, como por exemplo, a expectativa dos usuários de apenas ter um contato social, que em muitos setores vigora, em face da relação médico-paciente. Se os pacientes, como acontece em muitas comunidades interioranas, ainda estão reféns de crenças ancestrais em face da autoridade social do “Doutor”, sem enxergar nele alguém que pode contribuir para o paciente adotar novos hábitos que facilitam a preservação da saúde, as soluções prescritas não terão toda a sua eficácia. De outro lado, pessoas que pagam plano de saúde, muitas vezes, utilizam sem necessidade o sistema, apenas para se sentirem gratificadas financeiramente: “paguei, logo tenho direito a utilizar o meu plano à vontade”. É uma questão, diríamos, de bom senso e de consciência cívica. Sobrecarregar os serviços pode significar tornar os mesmos inacessíveis a pessoas que deles precisam.

A plateia virtual fez perguntas à vontade, discutindo casos concretos à luz dos conceitos apresentados e sugerindo algumas aplicações novas, para melhor aproveitar as experiências destacadas na palestra.

O tema da Alta Tecnologia e a sua aplicação na área da saúde não me é desconhecido. Durante uma década fui coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora e uma das áreas de interesse, para esse centro de estudos, era a relacionada com a aplicação das novas tecnologias na prática médica e na gestão do setor da saúde pública. A preocupação que tínhamos no Centro era a da aplicação do conhecimento veiculado pelas Universidades, num contexto que abarcasse a perspectiva dos 50 anos futuros. Era necessário responder a esta pergunta: “Que país desejamos ter, para daqui a 50 anos, na área de conhecimento cujo ensino ministramos na Universidade?

Eram quatro as áreas que, do ângulo estratégico, foram escolhidas como prioritárias: 1 - Indústria de Defesa. 2 - Educação básica, fundamental e superior e a sua relação com a preparação dos alunos para entenderem a importância dos Estudos Estratégicos. 3 - Prioridades geopolíticas do Brasil no contexto internacional. 4 – O lugar da variável “saúde pública” no contexto do pensamento estratégico brasileiro.

Um primo meu, Juan Carlos Negrette (Diretor de Global Health na Universidade de Utah em Salt Lake City, Estados Unidos), dedica-se a esta área em convênio com a John Hopkins University. Quando aparecia no Brasil para as suas assessorias internacionais, aproveitava para conversar com ele acerca dos trabalhos publicados na área de saúde pública no “Portal Defesa”, do Centro de Pesquisas Estratégicas da UFJF. Escutava com interesse a experiência desenvolvida por ele em relação ao estudo comparativo entre países em desenvolvimento, quando na área da saúde se adotavam novas tecnologias médicas e de gestão, com resultados bastante positivos. Ele desenvolveu estudos comparativos entre países como Egito e Filipinas.

A conclusão que tirei desses diálogos é que muito nos falta ainda no Brasil para equacionarmos a contento políticas de saúde pública que beneficiem, sem interrupções, a nossa sociedade. Ainda temos muito o que fazer nesse setor. A maior dificuldade por mim encontrada para o equacionamento da saúde pública decorre da nossa tremenda desigualdade social. Um país, no qual, a alta nomenclatura do Estado apropria-se, sistematicamente, de uma porção significativa da riqueza nacional para sufragar gastos de primeiro mundo nas áreas de saúde e previdenciária, precisaria primeiro desmontar o arcabouço burocrático privilegiado do Estado Patrimonial para pô-lo a serviço de todos os brasileiros. O que se observa, infelizmente, nestes tempos de crise econômica, é que os reajustes salariais e previdenciários correm muito bem para os altos escalões da burocracia estatal (especialmente congressistas e altos burocratas do Judiciário), enquanto minguam para o grosso da nossa sociedade.

Uma última observação. Quando da minha passagem à frente do MEC (no primeiro trimestre de 2019), fiquei impressionado com a quantidade de Centros de prestação de serviços de Saúde sob o comando do Ministério: quarenta Hospitais Universitários Federais cobertos pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares EBSEHR. Ora, essa Empresa atende 7,5 mil vagas para residência médica em 959 programas, além de ser campo de prática para mais de 60 mil graduandos na área da saúde, em 32 Universidades Federais. Esse é um desafio fora do comum, dada a pouca comunicação existente entre esses hospitais, tanto no que respeita à adoção de novas tecnologias para a formação de médicos, quanto no que diz relação à circulação dos conhecimentos fruto das pesquisas realizadas.

Convenhamos que, para um Ministério com 200 mil funcionários e que já cuida do Ensino Básico e Fundamental (com 162 mil escolas municipais e mais de 60 mil escolas estaduais, pelo país afora, para financiar e atender no que tange aos rumos pedagógicos), tomar conta, também, da gestão do universo representado pelos 40 Hospitais Universitários é uma missão de Sísifo.

Seria desejável menos concentração de funções num Ministério já sobrecarregado, descentralizando a gestão dos Hospitais Universitários e conferindo ênfase à agrupação daqueles por regiões. Seria positivo que houvesse a colaboração entre o setor público e o privado, a fim de desenvolver parcerias no que tange às políticas de saúde, com a colaboração financeira e de conhecimento acumulado pelas empresas privadas. Nesse terreno, a adoção da alta tecnologia na área da gestão de saúde, seria de extrema importância. Um campo em que uma técnica de alto nível, como a Dra. Katia Galvane traria muitas contribuições valiosas.

Nota

TOLEDO, Alessandro Acayaba de. "Planos de saúde: atenção aos idosos e às crianças". O Estado de São Paulo, 22-08-2022: A4.