
OS PRESIDENTES RUSSO, VLADIMIR PUTIN, E CHINÊS, XI JINPING (LE FIGARO, PARIS, 6 DE FEVEREIRO DE 2022)
“Nihil novum sub Sole” diziam os latinos (“Nada de novo à luz do Sol”). Esse é o surrado cenário que nos apresentam, hoje, a China e a Rússia, pela boca dos seus líderes Xi-Jinping e Vladimir Putin, já “coroados”, para sempre, como Imperadores dos respectivos países, pelos Congressos dos seus povos devidamente disciplinados por obra e graça do tacão de ferro do Estado mais forte do que a sociedade, que sintetiza a essência do Despotismo Oriental na sua mais forte manifestação contemporânea.
Putin e Xi-Jinping encarnam, efetivamente, a figura do líder prevista pelos estrategistas russo e chinês, Pedro o Grande (1672-1725), autor do Testamento Político e Sun-Tzu (544-496 AC), o mítico general e autor do clássico a Arte da Guerra. É o velho cenário da Guerra Fria, revivida neste século pela disputa entre o Oriente e o Ocidente.
Xi-Jinping denuncia “a influência negativa, para a paz e a estabilidade, proveniente da união indo-pacífica sob a liderança dos Estados Unidos”, ao redor da AUKUS (acrônimo que traduz a união, face à China, dos Australianos, dos Británicos e dos Americanos). Putin proclama, pela sua vez, a “oposição a qualquer alargamento futuro da OTAN”, tentando barrar os esforços da Europa e dos Estados Unidos em prol do fortalecimento dos limites da Aliança Ocidental, incluindo as ex-repúblicas soviéticas, inclusive a Ucrânia.
Assistimos à organização de forças de guerra ao redor dos dois “pomos da discórdia” da estratégia global das duas potências totalitárias: a Ilha de Taiwan (“protegida” pela China) e a Ucrânia (“protegida” pela Rússia). Putin declarou, recentemente, a vigência da ideia da “indivisibilidade da segurança”, expressa no seguinte princípio: “Não se pode buscar a segurança contra os interesses de outras Nações”. É claro que o esperto líder russo deixou do lado de fora, previamente, os “interesses estratégicos do Ocidente”, incluindo a Ucrânia como parte da “indivisibilidade da segurança russa”.
A verdade é que estamos vivendo, no plano internacional, um período de “desconcerto” das Nações do Ocidente, em face das explícitas pretensões hegemônicas de russos e chineses. O desconforto se traduziu na ausência de representantes dos países ocidentais na abertura dos jogos de inverno em Pequim, em protesto contra as violações dos direitos humanos da minoria uigur de Xianjiang por parte do governo chinês, com a prisão arbitrária dos líderes em campos de detenção.
Como de praxe, o Presidente Bolsonaro contribui para o desconcerto global, com a inoportuna visita programada para encontrar Putin em Moscou nestes momentos de tensão, no dia 14 de fevereiro. O presidente brasileiro imita o chefe do Estado francês, Macron, com uma visita semelhante, apesar de não simpatizar com ele.
Veremos em que dá todo esse imbróglio estratégico no Brasil da pandemia e da pré-campanha que se arrasta. O previsível é que a nossa esquerda totalitária se alinhe despudoradamente com Pequim e Moscou. E que as homólogas organizações radicais latino-americanas o façam também, na trilha dos latidos das matilhas bolivariana e cubana. Esperemos para conferir.