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A POLÍTICA DOS SALÕES E DAS CONFERÊNCIAS NA FRANÇA, ENTRE 1830 E 1848

A POLÍTICA DOS SALÕES E DAS CONFERÊNCIAS NA FRANÇA, ENTRE 1830 E 1848

A CULTURA DO SALÃO NA FRANÇA ENTRE 1830 E 1848

Desde a Revolução Francesa havia três espaços de participação política abertos às Classes Média e Alta: os tradicionais Salões, que se organizavam ao redor de uma dama da antiga Nobreza aburguesada e da Burguesia, os Partidos Políticos, que se alimentavam das ideias que circulavam nos Salões e as Associações Científicas, Filosóficas e Culturais que, no caso de Tocqueville, consistiam na Academia Francesa, em Paris, da qual o nosso autor participava desde o início dos anos 40, a Academia de Estudos Morais e Políticos e algumas Academias regionais, como a de Cherbourg. Nesta última foram divulgados, em primeira mão os estudos de Tocqueville sobre o tema da pobreza e do pauperismo.

Foi importante, nos anos revolucionários, o papel desempenhado pelo Salão organizado, na sua residência, por Madame de Staël (1766-1817), frequentado por candidatos aos novos cargos públicos da pós-Revolução como Henri-Benjamin Constant de Rebecque (1767-1830) - que foi amigo e amante de Madame de Staël -. Figuras importantes como Talleyrand (1754-1838, que foi Ministro das Relações Exteriores de Napoleão), o próprio Napoleão (1769-1821) que frequentou o Salão de Madame de Staël, bem como o da bela Madame Juliette Récamier (1777-1849) e, já no ciclo pós-napoleônico, imediatamente após a queda dos Bourbons e o início da Revolução burguesa de 1830, o Salão da princesa russa Dorothéa de Lieven (1785-1857) filha de um Ministro do Czar e esposa de um general russo, cujo salão foi organizado na antiga residência de Talleyrand, tendo sido frequentado por intelectuais liberais que aspiravam a ocupar altos cargos no governo da Monarquia de Julho. Um desses intelectuais foi François Guizot (1787-1874), que teve como protetoras tanto a Madame de Staël quanto a princesa Dorothéa de Lieven. Ciente da sua influência na política europeia, na época da Revolução Francesa de Julho de 1830, Dorothéa se gabava de que tinha protegido tanto o primeiro-ministro austríaco Klemens von Metternich (1773-1859) quanto o próprio Ministro Chefe do Gabinete Francês François Guizot . “Eu amo muito os Primeiros-Ministros”, dizia, vaidosa, a elegante princesa.

Nos últimos anos da Monarquia de Julho e especialmente após a Revolução de 1848, o gosto pelos salões como meio de ascensão política e de ilustração, foi paulatinamente sendo substituído pela valorização das denominadas “Conferências”, organizadas ao redor de um eminente político ou em torno a movimentos populares para a democratização da arte e das boas maneiras como os Orfeões, dos quais participavam tanto intelectuais como homens de negócios que buscavam ascender socialmente. Ficaram famosas as Conferências organizadas por membros do Parlamento, com a finalidade de discutir aspectos programáticos da política francesa, ou a Sociedade de Bons Estudos, na qual outro ilustre deputado, Berryer, dava palestras sobre temas ligados às questões sociais e políticas.

As conferências levavam o nome de algum político em destaque, vivo ou já falecido. Assim, a Conferência Molé chegou a se constituir, rapidamente, “numa das instituições da política francesa”, segundo afirma Françoise Mélonio no seu ensaio intitulado: “De la culture critique à la culture civique”, [in: Antoine de Baecque e Françoise Mélonio, Histoire culturelle de la France – Lumières et Liberté, les Dix-Huitième et Dix Neuvième Siècles; Paris: Seuil, 1998, p. 238]. A Conferência Tocqueville, criada em 1863 pelos amigos do nosso finado autor, e que se fusionou em abril de 1876 com a Conferência Molé, reuniu-se ininterruptamente até 1970. “Ela desapareceu nos anos 1970, - escreve Françoise Mélonio - após um século e meio de trabalhos práticos de eloquência que garantiram a preeminência dos advogados na vida política” [Mélonio, ob. cit., p. 238]. Acerca dos regulamentos que vigoravam para as mencionadas Conferências, frisa a mencionada autora: “O candidato era admitido por cooptação, mediante um direito de ingresso e uma cota pecuniária. Cada titular deveria no ano seguinte à sua admissão, redigir um projeto de lei acompanhado de uma exposição de motivos e era submetido à uma discussão com objeções, sendo o ingresso sancionado por um voto” [Mélonio, ob. cit., ibid.]. A Conferência contava com 265 membros e serviu como meio de formação jurídica dos futuros advogados e de caminho para a vida política ativa, preparando os candidatos para as eleições da Assembléia Nacional.

A respeito desses eventos de democratização da cultura, frisa Françoise Mélonio: “O próprio sucesso dessas Conferências mostra bem a erosão da função política do salão e do papel público das mulheres. Mas aquilo que o salão perde em política, ele o preserva nas artes. Nos novos salões discute-se literatura ao redor de Victor Hugo, dos irmãos Goncourt, de Leconte de Lisle e de Stéphane Mallarmé. Preparam-se espetáculos. No seu hotel da rua do Faubourg Saint Honoré, o conde Julles de Castellane abre, em 1835, um teatro amador para o grande público; 300 a 400 pessoas por noite vêm assistir às representações, até em 1848. Mais sustentada ainda é a educação musical. Os amadores constituem a tradição aristocrática sem poder abordar o repertório romântico, muito difícil. (...) . É nos salões onde virtuosos estrangeiros como Liszt, Chopin, Thalbert, Paganini se formam em profusão, assim como uma nuvem de intérpretes de pianoforte que desabam a cada inverno sobre Paris, segundo Heine, para fazer o seu nome nos anos 1840. Apesar da fundação em 1822, da Sociedade Filarmônica de Paris, somente em 1848 se desenvolvem verdadeiramente os concertos públicos e se democratizam” [ Mélonio, ob. cit., pp. 238-239].