Antônio Paim (1927-2021) caracterizou-se por ser um dos mais importantes pensadores do Liberalismo no Brasil. Fez a opção liberal quando regressou da União Soviética, tendo participado do grupo que denunciou os crimes de Stalin, ao ensejo do Relatório Kruschev. Foi membro atuante do Partido Comunista, que o enviou a Moscou com a finalidade de que aprofundasse no conhecimento filosófico do comunismo, mas passou a ser considerado, pelas lideranças soviéticas, como um desafeto e, em consequência, enfrentou a perseguição continuada por parte dos membros da antiga nomenclatura e, no Brasil, dos sequazes do PC. Em sete itens sintetizarei a jornada liberal de Antônio Paim:
1 – Antônio Paim foi o pensador liberal que, de forma mais contundente e clara, identificou o Partido dos Trabalhadores como aquela agremiação que mais fortaleceu o Patrimonialismo, em decorrência de dois fatos: a estatização sumária e a desmoralização das privatizações.
2 – Antônio Paim foi quem, de maneira definida, identificou a índole corruptora do PT, ao assinalar que esse Partido fez da cooptação o único meio de relacionamento entre o Estado e a Sociedade, desmoralizando totalmente a representação.
3 – Paim aderiu à concepção da Filosofia como problema, inserindo nesse contexto o estudo da história das ideias. À luz dessa proposta, elaborou o método para estudar os pensadores, seguindo nisso a proposta de Miguel Reale (1910-2006). Para pesquisar as idéias de um pensador, é necessário, primeiro, levar em consideração o problema que ele buscava solucionar, a fim de, em seguida, ver a forma em que o pensador encontrou a solução para essa problemática. Assim, pensava Paim, se evita o vício da “filosofia em mangas de camisa” (como frisava Tobias Barreto), que classifica os autores pela simpatia ou antipatia do pesquisador com as próprias ideias.
4 – Do ângulo da metodologia para fundamentar a pesquisa histórica, Paim defendia a concepção da História como estudo dos fatos, inserindo no contexto do neokantismo a sua posição historiográfica e fugindo, dessa forma, do vício dos marxistas de encarar a história como uma narrativa que justifique o seu ponto de vista.
5 – Paim era um pensador engajado, ou seja, que procurava, no estudo das ideias liberais, fugir à cômoda posição nefelibática da teoria pela teoria, sem encarar a realidade circundante. A pesquisa do Paim desaguava, habitualmente, na construção de um roteiro que visasse à construção das instituições que garantissem o exercício da liberdade. Nesse panorama de ação, a mais importante instituição era a que dizia relação ao exercício da representação de interesses no Parlamento. Defendia a adoção do “voto distrital” como meio para fundamentar o exercício da representação, a partir da defesa dos interesses materiais dos eleitores.
6 – Paim se constituiu, pela sua obra, no mais importante historiador do Liberalismo no Brasil, tanto do ângulo da pesquisa acerca da evolução das ideias liberais no Mundo, quanto do ângulo dos pensadores liberais brasileiros.
7 – Paim identificou a dificuldade do ponto de vista ético, para sairmos do Patrimonialismo. Assinalou, claramente, que o nosso Estado Patrimonial ancorou, já desde o período colonial, na moral contrarreformista pregada pela Igreja Católica. Seria necessária a adoção de uma ética do trabalho, que fundamentasse a prática da representação, a fim de ensejarmos um conjunto de instituições e hábitos que consolidassem nossa saída do Patrimonialismo. A definitiva consolidação do Patrimonialismo no ciclo lulopetista, no qual ainda teimamos em permanecer, decorre do fato de que Lula representou, claramente, a opção ética pelo não trabalho e pelo enriquecimento à margem deste, ou seja, mediante as práticas da corrupção a partir da apropriação do dinheiro público. A queda da Lava-Jato correspondeu à adoção da moral contrarreformista que santifica a apropriação da riqueza à margem dos sistema produtivo, prática santificada por Lula, ao ensejo das pesquisas feitas por Alberto Carlos Almeida, que consolidaram a moral à margem da produção como a “esperteza” que leva ao sucesso. Paim considerava que enquanto houvesse brasileiros que acreditassem nesse estado de coisas, o PT ganharia de lavada a simpatia do eleitorado.